O Sluagh – A Hoste de Almas Imperdoáveis da Mitologia Celta

Numa noite sem luar, sob a penumbra de um céu negro fustigado por um vento cortante, o farfalhar das árvores pode parecer sinistro…, mas nada tão preocupante quanto a sombra que paira no Oeste. Ao longe, se aproxima algo que relembra uma nuvem pesada, carregada com as últimas chuvas de outono, porém ela é bem mais do que isso. Você se lembra das lendas contadas na mesa de jantar sobre O Sluagh, a horda de almas imperdoáveis, necrófagos com um faro para a morte. O que resta fazer? Fechar as janelas e portas e rezar para quaisquer deuses que possam estar te escutando.

Nesse artigo, vamos explorar uma antiga lenda do povo Celta que habitava, nos primórdios, as regiões da Irlanda e Escócia. Um conto de fadas macabro capaz de gelar espinhas e manter até mesmo os mais corajosos vigilantes à noite.

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Um Bando de Almas Penitentes Rejeitadas no Submundo

O folclore celta é repleto de mitos e lendas superinteressantes, que nos fazem crer que esse foi um tempo verdadeiramente mágico para se viver. Deuses, heróis, entidades e, é claro, monstros e criaturas misteriosas faziam parte do imaginário desse povo ancestral.

O Sluagh (se pronuncia Sluah) estava num panteão ainda mais elevado entre as criaturas, sendo uma das entidades mais temidas entre os seres mágicos das lendas, também chamado de “Faerie”. Uma horda de almas penitentes, rejeitadas pelos deuses e pela terra, condenados a vagar pela eternidade. Seres vis e caóticos, que se alimentam de almas humanas. Capazes de levar morte por onde passam e carregar consigo um temor que supera até mesmo o medo da morte.

No passado, acreditavam que esses seres eram criaturas do Reino das Fadas, ou Faerie (seres mágicos, descendentes diretos da Tuatha de Danann) que se desviaram da virtude. Se tornaram maldosos, sem compaixão, misericórdia ou sentimentos. Por isso, suas almas foram condenadas pelos deuses a vagar em bando pela terra.

Com a chegada do cristianismo, os Sluagh se tornaram almas penitentes e pecadoras, rejeitadas no céu e inferno. Seja qual for a abordagem, dos Celtas ou cristãos, uma coisa era certa: o Sluagh era considerado uma força maléfica com potencial destrutivo.

A Forte Ligação Entre o Sluagh e o Samhain (o Halloween da Mitologia Celta)

Existia uma ligação firme entre a Horda dos Imperdoáveis e o Halloween dos Celtas, chamado de Samhain. Era dito que, durante a época do Festival de Samhain (que simbolizava o início do inverno), o véu entre o mundo dos vivos e dos mortos se tornava tênue.

Isso significava que as almas dos que pereceram podiam cruzar, com mais facilidade, essa barreira. Entes queridos, há muito mortos, visitavam sua família; almas perdidas vagavam pelas florestas; e espíritos ruins ou zombeteiros atazanavam as pessoas. Mas, o que isso tem a ver com o Sluagh?

Bom, nas lendas é mencionado que somente durante o período de Samhain a Horda poderia conquistar novas almas para o seu bando. Diferente do que normalmente faziam, se alimentando de almas dos moribundos, nessa época eles podiam tornar uma nova alma, ainda que pura, parte do seu grupo infernal. Quando isso acontecia, de acordo com os mitos, eles invadiam a casa de pessoas a beira da morte, usando as sombras como aliada e sugavam sua força vital, recrutando aquela pobre alma para sua hoste.

E isso abria caminho para uma de suas únicas fraquezas.

Maneiras Para Derrotar O Sluagh

Em certas lendas, é dito que um membro do Sluagh só pode ser eliminado durante o período de Samhain, enquanto ele tenta roubar a alma de sua vítima. Nesse processo, a besta se torna vulnerável e trespassá-lo com uma arma de ferro, atravessando seu coração, pode ser o suficiente para matá-lo.

Por isso, na mitologia, a Hoste dos Imperdoáveis é considerada um grupo de falsos-imortais. Podem viver para sempre, mas, caso atacados da forma correta, deixam de existir. Mas, essa não é sua única fraqueza.

Deixando de lado o Samhain, certas histórias deixam a entender que ele é vulnerável, assim como a maioria das criaturas sobrenaturais, ao ferro puro e ao sal marinho. Talvez em uma ocasião comum isso não seja o suficiente para eliminar o ser malévolo, mas certamente serviria para repelir o Sluagh.

E, não se esqueça: não vague à noite, principalmente nas sem luar e sempre mantenha as portas e janelas viradas à Oeste bem fechadas.

Sluagh e a Caçada Selvagem (Wild Hunt)

O Sluagh é, comumente, associado a uma outra lenda chamada de Wild Hunt, ou Caçada Selvagem. Para quem conhece os livros e jogos de The Witcher, esse não é um termo novo; inclusive, Wild Hunt é o terceiro título da série de jogos e o mais famoso e premiado deles.

Mas, o que você que é fã dessa obra pode não saber é que o fenômeno da Caçada Selvagem é uma lenda real (assim como diversas outras criaturas, como o Leshy e a Lâmia), vinda dos povos europeus antigos e com bastante coisa em comum com a Hoste dos Imperdoáveis. Não vou me aprofundar na Wild Hunt, pois muito do que eu falei antes serve para as duas lendas. Todavia, é importante dizer que o Sluagh, assim como a Caçada Selvagem, possui diversas representações físicas em suas supostas aparições.

Podem se parecer com um grupo humanoide, figuras semi-humanas com aparência fantasmagórica e que possuem a habilidade de se deslocar pelo ar. Não é incomum topar com referências que os ligam a um bando de corvos ou outra ave, enquanto voam e em algumas lendas dizem até que um dos seus mau-agouros é ouvir o bater de asas. Outras, dizem ser a mistura de ambos: parte humanoide, parte ave, mesmo quando em terra firme. O que parece ser consenso é a parte de serem criaturas com inclinações para o mal. Além de serem uma hoste, ou horda; sempre em grupo.

Soldados desonrados, almas penitentes rejeitadas no submundo, fadas malformadas… bom, o que realmente é o Sluagh permanece uma incógnita e isso é parte do que faz o mito ser tão interessante e amedrontador. Espero que tenham gostado de conhecer um pouco mais sobre o Folclore Celta e não deixe de comentar caso queiram saber sobre uma lenda em específico que, com muito prazer, trarei neste blog.