Os mares, com sua vastidão insondável, sempre foram palco das mais misteriosas histórias, incríveis e fascinantes, ainda assim tenebrosas. Em meio a tantos mitos, destacava-se a lenda de Davy Jones, uma entidade temida por qualquer marinheiro. Seu nome era capaz de evocar o mais puro temor, o medo de uma morte nas profundezas escuras do oceano. O seu baú, simbolizava um destino sombrio, o descanso final de marinheiros desafortunados que eram arrastados para o purgatório. Mas quem foi Davy Jones e como surgiu essa lenda?
O Baú de Davy Jones: Uma Metáfora para Morte
O Baú de Davy Jones, também conhecido como Armário de Davy Jones, é uma metáfora para o abismo do oceano. Um eufemismo representando o destino de marinheiros que pereceram em naufrágios ou afogamentos em alto-mar.
Na tradição náutica, a expressão “descer ao Baú de Davy Jones” significava ser engolido pelas profundezas, condenados ao esquecimento eterno. Sendo o mar uma tumba sem retorno.
Essa é uma lenda sombria que, como muitos outros contos do mar, é quase impossível descobrir sua verdadeira origem que muitas vezes eram passadas apenas em forma verbal.
Vamos entender um pouco mais sobre as suas possíveis origens!
Possíveis Origens da Lenda
A verdadeira origem da figura de Davy Jones é incerta, com teorias que variam desde uma simples personificação dos perigos do mar até a ideia de que ele foi um pirata real. De fato, existiu um pirata chamado David Jones, que navegou no Oceano Indico em meados do século 17. No entanto, a maior parte dos historiadores e estudiosos concordam que ele não foi famoso o suficiente para ter dado origem à essa lenda.
Uma das versões mais populares sugere que Davy Jones poderia ter sido um capitão cruel, que castigava tripulações com mortes brutais, levando seu nome a se tornar sinônimo de morte nos oceanos.
Existem diversas referencias antigas a essa lenda náutica. A mais antiga delas está em um livro publicado em 1726 por Daniel Defoe, chamado “Os 4 Anos de Viagens do Cap. George Roberts”. Nessa obra é encontrada as seguintes passagens:
“Alguns dos homens da tripulação de Loe disseram que iriam procurar algumas coisas e me dar quando eu estivesse indo embora; mas Ruffel disse a eles que não, pois ele jogaria todos os itens no Baú de Davy Jones se o fizessem.”
E em outro trecho desse mesmo livro:
“Mas agora eles não tinham mercadorias, ele acreditava, tendo se livrado de todas, seja dando-as a outros prêmios, etc., ou jogando o resto no Baú de Davy Jones.”
Sendo o baú uma analogia direta ao fundo do mar, nesses casos.
Uma outra obra lançada mais tarde nesse mesmo século continha uma descrição mais vívida sobre o próprio Davy Jones. Lançado em 1751, “As Aventuras de Peregrine Pickle”, de Tobias Smollett, continha essa passagem:
“Esse mesmo Davy Jones, segundo os marinheiros, é o demônio que preside sobre todos os espíritos malignos das profundezas, e é frequentemente visto em várias formas, empoleirando-se entre os cabos na véspera de furacões, naufrágios e outras desgraças às quais a vida no mar está exposta, avisando o infeliz devoto sobre a morte e o infortúnio.”
E essa é uma abordagem que lembra bastante os presságios e mau agouros trazidos pelo Holandês Voador, outra lenda muito famosa que é muitas vezes ligada à Davy Jones, quase sempre por causa dos filmes do Piratas do Caribe.
Ainda sobre a origem desse mito, existe a possibilidade de que o nome Davy Jones tenha evoluído de termos usados pelos marinheiros para descrever o diabo do mar, como por exemplo Old Nick que era usado para o diabo cristão. Mas, entre as várias teorias sobre a origem da lenda de Davy Jones, uma das mais aceitas por linguistas combina a figura do santo galês São David e a narrativa do profeta bíblico Jonas.
São David, patrono do País de Gales, é frequentemente associado ao mar e à proteção dos marinheiros, enquanto Jonas, que foi engolido por um grande peixe, simboliza temas de salvação e condenação. Essa fusão resultou em Davy Jones como um juiz das almas no fundo do mar, representando a intersecção entre a mortalidade humana e os mistérios das águas. Assim, “O Armário de Davy Jones” se torna um símbolo onde os marinheiros mortos aguardam seu julgamento.
Apesar de nenhuma dessas teorias tenha confirmação histórica, todas elas reforçam a imagem de Davy Jones como uma figura aterradora, associada à morte daqueles que perecem no mar.
A Ligação Entre Davy Jones e o Holandês Voador
Embora a lenda do Flying Dutchman seja uma das histórias de navios fantasmas mais antigas, ela originalmente não estava conectada a Davy Jones. A associação entre os dois surgiu apenas mais tarde, por textos que traziam o efeito de mau agouro da presença de Davy Jones. Essa visão foi popularizada pela franquia de filmes “Piratas do Caribe”, que trouxe a figura como um capitão amaldiçoado do Holandês.
Na verdade, o Flying Dutchman é uma lenda à parte, que fala de um capitão amaldiçoado a vagar eternamente pelos mares, incapaz de atracar em qualquer porto. Esta história remonta ao século XVIII e inspirou muitas representações na cultura popular, mas não faz parte do mito original de Davy Jones.
Inclusive, fiz um artigo aqui no blog falando sobre essa lenda. Clique aqui para ler o artigo sobre o Holandês Voador!
O Baú de Davy Jones na Cultura Popular
O mito do Baú de Davy Jones continuou a se expandir ao longo dos séculos, ganhando diversas interpretações na literatura e no cinema. A expressão ganhou um destaque especial na série Piratas do Caribe, onde o baú é descrito como algo físico, um cofre contendo o coração de Davy Jones. Além de sua representação mais fiel, como um tipo de purgatório no terceiro filme “O Baú da Morte”.
A ideia de um baú, ou armário, como o local final de descanso para os desafortunados que perecem no mar ressoa com o temor antigo dos navegadores. Essa imagem de Davy Jones como uma entidade vingativa que arrasta suas vítimas para o fundo do oceano reforça o mistério e o fascínio que a lenda ainda exerce sobre a imaginação popular.
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