O mar é uma fonte inesgotável de histórias misteriosas, repletas de lendas e mitos que, muitas vezes, são capazes de assustar até o mais valente dos marinheiros. Entre essas histórias, um tipo se destaca: os relatos sobre navios fantasmas que vagam pelos oceanos, tripulados por almas condenadas a nunca encontrar descanso. No artigo de hoje, vamos explorar a mais memorável e fascinante dessas histórias: a lenda do Holandês Voador.
Holandês Voador: A Maior Lenda dos Sete Mares
O Holandês Voador é um navio fantasma tripulado por espíritos condenados a vagar pela eternidade. Amaldiçoados por Deus ou pelo Diabo, dependendo da história contada, atracar em terra firme não é uma opção para esses penitentes.
Avistar o Holandês, geralmente em meio ao mal tempo, era sinal de mau agouro e quase sempre significava que algo ruim estava prestes a acontecer. Sinistro e imponente, o Holandês navega em velocidade, por cima ou abaixo do mar, buscando nas tempestades suas próximas vítimas.
As lendas que envolvem o Holandês Voador têm raízes no século XVII. Muitas são as abordagens e possíveis origens, algumas comuns, já outras com aspectos sobrenaturais e fantasiosos.
Vou te contar agora a principal dessas lendas!
Hendrick Van der Decken: O Capitão que Desafiou os Mares
Em 1690, um holandês chamado Hendrick Van der Decken partia em uma importante missão comercial. Após conseguir chegar com sucesso nas Índias Orientais, ele retornava para Amsterdã com sua embarcação carregada de mercadorias valiosas. Porém, no caminho de volta, decidiu traçar a rota mais rápida, atravessando o caminho próximo ao traiçoeiro Cabo da Boa Esperança.
O local, na Costa da África do Sul, era conhecido como sendo um ótimo atalho para comerciantes, cortando caminho para ir e voltar das Índias Orientais. Mas essa era uma porção de mar ardilosa e com tempestades frequentes.
Em sua embarcação, ele seguiu destemido. Mas, ao chegar nas proximidades do Cabo da Boa Esperança, o tempo se fechou. Ventos fortes sopravam as velas, que se tornaram difíceis de se controlar. Trovões rugiram nas nuvens carregadas e um desastre se anunciava.
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A tripulação, ciente da má fama do local, implorou para que Van der Decken voltasse, ou até mesmo fosse em direção à costa para ancorar e aguardar o fim da tempestade. Mas, o orgulho e a imprudência falaram mais alto que a razão. Ele jurou para si e para seus tripulantes que atravessaria o Cabo da Boa Esperança, custe o que custasse.
Um tempo depois, a tempestade desabou com força total. Numa loucura desvairada Hendrick amaldiçoava a Deus pelo tempo ruim. E, ao ser pressionado por seus homens para retornar ao cais, respondeu: “Que eu seja eternamente condenado se o fizer, mesmo que eu tenha que navegar por aqui até o Dia do Juízo Final.”
Suas blasfêmias não passariam impunes… um anjo do Senhor desceu dos céus e ficou de pé no deck principal. Olhando Vaan der Decken nos olhos, proferiu sua sentença: vagar eternamente até os fins dos tempos, sem a dádiva de colocar os pés em terra uma vez mais.
Outras Lendas e Possíveis Origens do Holandês Voador
Alguns detalhes diferem entre uma e outra versão da lenda. Diferenças entre o tipo de navio e seu porte, sobre quem foi o verdadeiro capitão, entre outras nuances.
Por exemplo, em uma delas é dito que, ao recusar retornar para o cais, a tripulação se amotinou. Hendrik teria então matado um dos homens, pondo assim um ponto final ao motim. Depois, jogou o corpo no mar atraindo ainda mais a ira dos oceanos e trazendo para si a maldição.
Em outras versões, não foi um anjo do Senhor que desceu dos céus, mas sim o próprio Diabo para condená-lo. Certas variantes até divergem sobre a presença de qualquer entidade no navio; em algumas, o simples ato de conduzir toda a tripulação à morte foi suficiente para lançar a terrível maldição sobre eles.
Existem também lendas de que o capitão do Holandês Voador teria feito um pacto com o Diabo para atravessar em segurança o Cabo da Boa Esperança. Entretanto, sendo ele o tinhoso em pessoa, o trato foi quebrado, e as almas se tornaram vagantes eternas.
Relatos e Avistamentos do Flying Dutchman
Apesar do aspecto fantasioso e sobrenatural dessa lenda, fazendo com que ela pareça mais um conto de marinheiros para alertar quanto à imprudência no mar, muitos juram de pé junto já terem se deparado com o Holandês Voador em suas navegações.
Um dos relatos mais antigos de um contato com esse navio fantasma remonta ao século XVIII, embora a precisão dessas fontes possa ser questionável. Muitas histórias foram passadas oralmente, contribuindo para o mistério e a aura sobrenatural da lenda.
Um relato de avistamento do século 18, talvez o mais famoso, vem de uma viagem do Príncipe George de Gales, que mais tarde se tornaria o Rei George V. Junto de seu tutor John Neill e seu irmão Albert Victor de Gales, em uma longuíssima viagem que durou quase três anos, tiveram um encontro aterrorizante com o sobrenatural.
No diário do príncipe, datado de 18 de julho de 1881, há a seguinte entrada:
“11 de julho. Às 4 da manhã, o Holandês Voador cruzou nossa proa. Uma estranha luz vermelha, como a de um navio fantasma luminescente, no meio da qual brilhavam os mastros e velas de um brigue a cerca de 200 metros de distância que destacava-se em forte relevo quando chegou à proa de bombordo, onde também estava o oficial do navio.”
Nesse mesmo relato, ele afirma que vários outros membros do navio haviam visto claramente a aparição. No total, 13 marujos avistaram o Holandês, e uma das testemunhas, na manhã seguinte, caiu do topo de um mastro e foi fatalmente ferida…
Sabendo que avistar esse navio fantasma era um prelúdio de tragédias, só consigo imaginar o quão tenso o clima no navio ficou depois disso.
Houve muitos outros supostos avistamentos dessa lenda náutica. Como por exemplo o caso do SS Waratah, um navio de passageiros que desapareceu misteriosamente na costa da África do Sul, que relatou avistamentos do Holandês Voador pouco antes de sua última viagem, em que naufragou com 211 pessoas a bordo no ano de 1909.
Contatos diretos, colisões com o navio fantasma, visões em meio à neblina densa e em tempestades. Esses e outros tipos de histórias são encontrados em quantidade, afinal, não é à toa que esse mito dura até hoje.
Fata Morgana – Uma Possível Explicação?
Para não terminar sem ao menos trazer possíveis explicações, vale mencionar a “Fata Morgana”, um fenômeno natural que pode ter sido responsável por muitos dos avistamentos do Holandês.
A “Fata Morgana” é uma distorção óptica, uma espécie de miragem causada pela luz refratada em camadas de ar com diferentes temperaturas. Esse efeito cria distorções em um objeto visto no horizonte, alongando, comprimindo ou até mesmo dando a impressão de que tal objeto está flutuando ou de cabeça para baixo. Não é muito difícil imaginar um marinheiro do século XVII avistando esse tipo de coisa e julgando ser um fenômeno sobrenatural, não é mesmo?
Apesar disso, esse continua sendo um dos contos do mar mais interessantes e misteriosos até hoje. Ele inspira filmes, livros, séries e diversas obras de arte ao redor do mundo.
Conclusão
A lenda do Holandês Voador é uma tradição oral, com relatos escritos e uma rica história que simboliza os perigos inomináveis que espreitam nos locais obscuros do oceano. Ela nos lembra do poder do mar e da imaginação humana, sempre pronta para preencher o desconhecido com histórias fascinantes e aterrorizantes.
Espero que tenham gostado de conhecer essa magnífica lenda do mar e de me acompanhar nessa jornada pelo sobrenatural. Meu nome é L. R. Arcano, sou escritor de fantasia e meu primeiro livro “O Chamado das Profundezas” está disponível na Amazon e no catálogo da Editora Flyve, tanto em versão física quanto digital, então não deixe de dar uma conferida!
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