Os Berserkers eram os guerreiros mais ferozes e temidos da antiga mitologia nórdica. Com uma força descomunal, eles entravam em um transe brutal, assumindo uma fúria quase animal que os tornava imparáveis em combate. Esses guerreiros, muitas vezes associados ao culto de Odin, o Pai de Todos, são descritos como o arquétipo do lutador perfeito, símbolos de poder e selvageria. Mas o que realmente tornava um Berserker tão especial? Como eles alcançavam esse estado de fúria bestial?
As Origens dos Berserkers e Suas Primeiras Representações
Acredita-se que as raízes dos berserkers estão ligadas a antigas tradições de combate dos povos germânicos e escandinavos. Alguns estudiosos sugerem que essas tradições podem ter evoluído a partir de rituais de caça, que eventualmente se transformaram em um código marcial, físico e espiritual, semelhante ao Bushido dos samurais japoneses.
Esses guerreiros eram conhecidos por sua extrema disciplina, habilidade com armas e disposição para morrer defendendo seus companheiros. Três cultos animais surgiram nesse contexto: o urso, o lobo e o javali.
As primeiras menções escritas a guerreiros semelhantes aos berserkers podem ser encontradas em registros romanos. O historiador Tácito, no primeiro século d.C., mencionou guerreiros ferozes entre as tribos germânicas. Mais tarde, o historiador Prokopios, no século VI, descreveu os hérulos (que em latim eram chamados de Heruli), que lutavam quase nus, exibindo desprezo por suas próprias feridas.
Os hérulos, muitas vezes descritos como usando peles de animais, eram contratados em pequenos grupos por chefes ou reis, e há indícios de que as origens dos berserkers estejam conectadas a esses grupos.
Uma das representações visuais mais antigas de guerreiros usando peles de animais, associada a essa tradição, aparece na Coluna de Trajano em Roma, que retrata a conquista da Dácia entre 101-106 d.C. Na cena 36, é possível ver guerreiros tribais com capuzes de urso e de lobo, ecoando o que mais tarde seria característico dos berserkers na Era Viking.
Berserkers nas Sagas Vikings
Os berserkers também aparecem em várias sagas e poemas dos escandinavos, muitas vezes retratados como homens ferozes, que pilham e matam indiscriminadamente. A referência mais antiga ao termo “berserker” nas Sagas é encontrada no poema escáldico Hrafnsmál, composto pelo poeta Thórbiörn Hornklofi no final do século IX em homenagem ao Rei Harald Fairhair.
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Esse poema, é uma conversa entre um corvo e uma Valquíria. Nele, os berserkers são chamados de ulfheðnar [ulf-HETH-nar], um trecho da tradução de Hrafnsmál descreve os berserkers de Harald da seguinte maneira:
Os “provadores de sangue” neste poema são frequentemente interpretados como corvos, aves que se alimentavam dos mortos no campo de batalha.
Esses guerreiros, utilizados como tropas de choque pelo Rei Harald Fairhair desempenharam um papel fundamental na expansão de sua influência. Outros reis escandinavos também empregavam berserkers como parte de seus exércitos, às vezes posicionando-os como guarda-costas reais.
Rituais e a Fúria Animalesca do Berserker
Os rituais xamânicos desempenhavam um papel central na preparação dos berserkers para a batalha, permitindo que transcendessem sua humanidade e canalizassem forças animais. Esses rituais envolviam práticas espirituais e físicas, que buscavam invocar a proteção e o poder de divindades e espíritos da natureza.
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Uma das práticas comuns era a meditação ou transe induzido, que poderia ser alcançado por meio de cânticos, danças frenéticas e o uso de tambores. O som do tambor, em particular, ajudava a alterar o estado de consciência, permitindo que os berserkers se conectassem com o mundo espiritual e recebessem orientações ou bênçãos de entidades superiores.
O uso de ervas e substâncias psicoativas era também uma característica importante dos rituais xamânicos. Estas substâncias, muitas vezes ingeridas ou inalada, tinham a função de expandir a percepção e induzir estados alterados de consciência, aumentando a sensação de força e coragem.
Características e Habilidades
Os berserkers eram guerreiros notáveis na sociedade nórdica, e suas características e habilidades os tornavam temidos tanto no campo de batalha quanto na cultura popular.
- Fúria de Combate: Uma das características mais marcantes dos berserkers era sua capacidade de entrar em uma fúria intensa durante as batalhas, conhecida como berserkergang. Nesse estado, eles demonstravam uma força sobre-humana, atacando seus inimigos com ferocidade e sem se preocupar com possíveis ferimentos.
- Resistência a Dano: Contava-se que nem fogo nem armas cortantes tinham efeito sobre eles, permitindo-lhes avançar através de linhas inimigas e infligir danos consideráveis, embora, como os relatos indicam, não eram imunes a armas contundentes. Essa é uma hipérbole, claro, pois com certeza eles eram sim afetados, no entanto exibiam uma resistência maior a eles.
- Vínculo com Animais: Acreditava-se que os berserkers possuíam uma conexão especial com animais, especialmente ursos e lobos. Essa relação não só era simbólica, mas também se manifestava em suas habilidades de combate, em que podiam canalizar a ferocidade e os instintos desses animais.
- Táticas de Grupo: Muitas vezes, os berserkers lutavam em pequenos grupos, atuando como tropas de choque em batalhas. Essa coesão grupal era vital para seu estilo de combate, onde trabalhavam juntos para desestabilizar as forças inimigas.
Essas características e habilidades tornaram os berserkers figuras lendárias na mitologia nórdica, representando a personificação da bravura e da ferocidade em combat
Um relato significativo que contribui para essa visão quase fantasiosa sobre os berserkers vem do historiador e poeta islandês Snorri Sturluson (1179-1241), na Saga dos Ynglings, onde descreve os guerreiros de Odin:
Teorias Sobre o Estado de Fúria dos Berserkers
Agora, para encerramos o nosso estudo, vou falar um pouco sobre as teorias a respeito desse tal estado de fúria e como ele era alcançado pelos guerreiros.
O estado de frenesi conhecido como berserkergang, que se manifestava tanto em batalhas quanto em trabalhos árduos, permitia feitos extraordinários e podia vir acompanhado de tremores, febre e intensa raiva. Teorias sugerem que essa raiva poderia ser induzida pelo consumo de drogas alucinatórias, álcool ou misturas específicas. Outro aspecto é a possibilidade de a fúria ser uma forma de histeria autoinduzida, gerada por rituais que envolviam comportamentos como gritos animalescos e mordidas nos escudos.
Por fim, em uma abordagem mais contemporânea, a raiva berserker tem sido relacionada ao transtorno de estresse pós-traumático, indicando que a experiência de entrar nesse estado poderia causar danos emocionais e fisiológicos duradouros.
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